21 de nov. de 2012

Tabacaria, leituras noturnas e Chico Buarque.

Em mais uma de minhas noites lendo os textos do Ricardo Coiro, eis que em sua página 'O Cafamântico' o poema 'Tabacaria' de Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) surge novamente no meu caminho.
curiosidade. esse poema já me fez pensar muito, achei coincidência ele aparecer nas minhas leituras porque a umas semanas atrás conversei com minha amiga sobre como esse poema me tirou o sono, é demorei para entende-lo por completo, ri, reli e resolvi falar sobre ele aqui.
curiosidade.1. não sei porque, mas de noite/madrugada tenho mania de ler textos ouvindo Chico Buarque POISÉ
Enfim, é um poema que oscila bastante entre o mundo interior e a realidade cósmica, universal, ao mesmo tempo que ele fala da angústia com o dia-a-dia ele fala dos sonhos de liberdade, talvez seja o mais conhecido de Álvaro de Campos.
No começo achei meio estranho porque ao longo da leitura é presente uma auto negação de sua existência, vira e mexe ele fala de contras sem se enquadrar em nenhum dos mundos, como o: real e o ideal; individual e coletivo.
Resumidamente, é ele fechado em seu quarto, solitário, onde o eu-poético contempla uma rua, o mundo fora do seu quarto que o sufoca com suas regras e repetições maçantes onde percebe um mistério, que é a morte e o destino que ninguém vê. E fumando convulsivamente um cigarro,ele segue argumentando uma crítica da falta de significação que sua vida se tornara.
Como se em um clarão lhe viesse a certeza de que fora contemplado com a verdade total de todos os mistérios e o fizesse gritar sem ser ouvido do alto da janela para todos na rua dizendo que "eles sonham ainda e devem acordar!"
Creio que essa extraordinária percepção das coisas se dá à sua grande capacidade imaginativa, que o faz ver e sentir o que os outros não podem ver e sentir, é invejável sua capacidade de se transformar em vários e dar personalidade única para cada um deles, cada qual em seu próprio mundo. Imagina como não é a cabeça de alguém como ele? Imagina ter daquelas conversas intermináveis? Ok que não é possível, mas imagina. Ok também que me referi a ele no presente e algum pseudointelectual pode rir e falar: -"ele morreu em 35 e ela usa o presente para falar dele cof cof". Mas convenhamos meus caros, ele sempre será presente por meio de seus poemas.

Segue abaixo o link do áudio do poema.
Preste bem atenção nas palavras, no todo e divirta-se, a noite é uma criança.




música do post:  ~ CHICO BUARQUE - DURA NA QUEDA