31 de jan. de 2012

Um cavalo preto e lustroso.

... Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a cada dele, e é.
   Trata-se de um cavalo preto e lustoso que apesar de inteiramente selvagem - pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela - apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come às vezes na minha mão.
   Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. 
  Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. 
  A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo salvagem e suave.
  Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com seu nome.
  Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai.
  Se ele fareja e sente um corpo-casa é livre, ele trota sem ruídos e ai.
  Aviso tambem que nao se deve temer seu relinchar:
  A gente se engana e pensa que é a gente mesma que está relinchando de prazer ou de cólera,
  A gente se assusta com o excesso de doçura do que é isto pela primeira vez.

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